Vazamento de áudios revela negociação política por apoio a novo empréstimo de R$ 180 milhões em Porto Velho

Vazamento de áudios revela negociação política por apoio a novo empréstimo de R$ 180 milhões em Porto Velho
Crédito:Rondoniagora

O vazamento de áudios de uma reunião fechada entre vereadores de Porto Velho e o secretário-geral de Governo, Sérgio Paraguassu, expôs os bastidores das articulações para aprovação de um novo empréstimo de R$ 180 milhões solicitado pela Prefeitura. A proposta, enviada pelo prefeito Léo Moraes à Câmara, busca autorização para contratação de crédito com instituições internacionais, com a União como garantidora.

A reunião, que não teve divulgação oficial, revelou diálogos preocupantes. Os parlamentares discutem abertamente o custo político da medida e condicionam o apoio ao projeto à liberação total das emendas impositivas — cerca de R$ 21 milhões —, valor que pode ser aplicado livremente por cada vereador em entidades ou projetos locais.

Disputas e exigências

Em um dos trechos mais polêmicos, a vereadora Sofia Andrade (PL) ironiza a situação, perguntando: “Quero saber como o povo vai pagar a conta?”. Em vez de cobrar estudos técnicos ou prestação de contas sobre os R$ 300 milhões já aprovados anteriormente, ela demonstra maior preocupação com a repercussão nas redes sociais:

“Vamos apanhar igual menino ruim. Os Instagrans de todos estão fervendo...”

Já o vereador Breno Mendes defende a garantia dos 2% em emendas, mesmo que isso implique cortes em contratos de serviços essenciais:

“Se for para cortar contrato da MB [empresa de limpeza urbana], nós vamos cortar. Nem que deixe de limpar menos a cidade para atender as emendas impositivas.”

O que está em jogo

O percentual exigido pelos vereadores representa 2% da receita corrente líquida prevista para 2025, estimada em R$ 2,86 bilhões. Os R$ 21 milhões em emendas são considerados, por muitos analistas, moeda política valiosa — especialmente por não exigirem, em muitos casos, licitação formal.

O secretário Sérgio Paraguassu afirmou, durante a reunião, que a margem de investimento da prefeitura está limitada a R$ 180 milhões, devido ao alto comprometimento com folha de pagamento e contratos. Ele também explicou que, mesmo com a aprovação do projeto, a liberação do recurso pode demorar até um ano, considerando o trâmite junto ao Ministério do Planejamento e à Secretaria do Tesouro Nacional.

Críticas internas e repercussão

O vereador Devanildo Santana usou a tribuna para criticar a gestão Léo Moraes por, segundo ele, afastar servidores técnicos e paralisar projetos:

“Deixaram R$ 90 milhões em dezembro. O recurso tem. O último empréstimo está parado. Falta gestão.”

Após o vazamento, os vereadores Sofia Andrade e Breno Mendes repudiaram a gravação e sua divulgação. O presidente da Câmara, Gideão Negreiros, suspendeu a sessão para “acalmar os ânimos”.

A operação política por trás da aprovação do novo endividamento reacendeu o debate sobre transparência na aplicação de recursos públicos e o papel das emendas impositivas como instrumento de barganha no Legislativo municipal.